Alguns municÃpios, para agradarem a eleitores pobres, leigos em Educação, que pensam que reprovação é sÃmbolo de escola “forte†e para saciarem o apetite de uma classe média, leiga em Educação, e que pensa que reprovação é sÃmbolo de escola “forteâ€, cujos filhos estão em escolas particulares, uma classe que adora dar “pitacos” na educação pública, pois, afinal, pagam seus impostos, como se pobres também não pagassem impostos, estão, à s vésperas de ano eleitoral, acabando com a Progressão Continuada, utilizando, para isso, a velha e nada acadêmica desculpa de que reprovação é sinônimo de qualidade na educação.
Não citarei aqui o nome de nenhum municÃpio ou prefeito. Farei tão somente uma breve reflexão para que meus colegas, professores, possam dimensionar o tamanho do estrago. Admoesto que as reflexões aqui feitas referem-se tão somente ao Ensino Fundamental I.
Reprovar uma criança de até 10 anos está próximo às práticas manicomiais do século XIX, quando se acreditava que, utilizando choques e lobotomia, o paciente, quase vegetativo, melhoraria.
Ora, o currÃculo escolar aplicado em sala de aula data do século XIX. Alguns conteúdos como letra cursiva, separe em sÃlabas, diferença entre G e J, dê o antônimo, dê o feminino/masculino, etc. foram estudados por José de Alencar!
Meu Deus, como aplicar um currÃculo do século XIX, cheirando a pena e tinteiro a uma criança do século XXI, cheirando a cristal lÃquido? Só a aplicação sistêmica de um currÃculo extemporâneo já é uma lobotomia.
Agora, se a criança do século XXI se recusar a aprender coisas do século XIX, quase do mesmo modo como se ensinava no século XIX, e a caligrafia não me deixa mentir, esta criança tem que reprovar?
Bem, partamos do pressuposto de que toda a criança aprende até mesmo sozinha. Se não aprende, temos duas possibilidades a considerar:
a) a criança tem algum déficit de atenção ou outro problema cognitivo.
b) o currÃculo da escola está ultrapassado e os professores não se deram conta disso.
Consideremos a possibilidade A.
Se a criança tem dificuldade em aprender, ela deve ser encaminhada a uma psicopedagoga e fazer um trabalho que una a especialista, a famÃlia e a escola. Quanto antes a escola detectar a dificuldade da criança, melhor para o seu tratamento. Sendo assim, não podemos reprovar uma criança em tratamento! Isso é demissão mediante atestado!
Para melhor detectar questões deste tipo a escola precisa realmente OLHAR para a criança. Ter um olhar atento ao seu desenvolvimento diário. É um trabalho conjunto entre professores, coordenação, orientação, direção e famÃlia. Feito este trabalho, a criança começa a se desenvolver, afinal ela tem 5 anos para isso.
– Isso o quê?
– Ler e escrever.
– Mas e o resto?
– O resto fica a cargo do Ensino Fundamental II que precisa de crianças que leiam e escrevam muito bem para poder ministrar seus conteúdos.
Consideremos a possibilidade B
Neste caso, o problema não está com a criança, mas com o sistema educacional. O municÃpio precisa atualizar seus componentes curriculares e jogar as velhas práticas do século XIX na fogueira nada branda da banda larga.
Então quer dizer que pelo simples fato de uma criança se recusar a aprender como José de Alencar aprendia ela deve ser reprovada? Por favor…
Quando um paciente vai a um médico queixando-se de dor, o médico não reprova o paciente. O médico o trata. Imaginem um médico olhar para o seu paciente e dizer:
– O quê? Desvio de coluna? Você está reprovado. Volte daqui a um ano com esta coluna melhor ou eu lhe reprovo novamente! É isso o que a escola faz: a culpa de o aluno não aprender é do paciente, quer dizer, do aluno.
Assim como um bom médico, a escola precisa AUSCUTAR as dificuldades do aluno e tratá-la. Reprovar crianças é um atestado de incompetência da escola. E eu não estou falando em culpa do professor ou da escola. Culpa é coisa para Rivotril. Estou falando tão somente em responsabilidade.
Se a moda démodé da reprovação de crianças “pegarâ€, estaremos formando uma subclasse na escola : os repetentes. Os repetentes não são professores, não são alunos, pois não avançam para a série seguinte, não são coordenadores, não são diretores, não são merendeiros, não são funcionários. São tão somente REPETENTES.
Eu não estou sendo nada paternalista, apenas quero refletir a respeito do impacto desta volta ao século XIX. Se a retirada da Promoção Continuada for um sinal do avanço na qualidade da educação, ela tem a minha aprovação, pois com a qualidade do ensino elevada os alunos não reprovarão mesmo.
Mas se a retirada da Promoção Continuada for uma estratégia para punir crianças no intuito de encobrir o fracasso do sistema educacional e de seu currÃculo empoeirado, aà eu, como um professor clÃnico que trata seus pacientes, digo, alunos, sou totalmente contra.
Viva a Educação de qualidade!
Professor Robson Lima