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TELEVISÃO: A CAIXA DE PANDORA

A mitologia grega sempre nos surpreende com sua forma de explicar as coisas. Aliás, reparem que na escola somos educados para a ciência, mas quando descobrimos a mitologia, começamos a ser educados para a poesia, para o encanto de saber que em algum canto há um Eros, apaixonando, uma Afrodite, embelezando ou um Dionísio se embebedando.

Essas possibilidades de um mundo um pouco mais encantador que o mostrado pelo microscópio costuma nos molhar. Amplia-nos o olhar sobre a vida e sobre as coisas da vida. Descobrimos outro universo. Não estou falando em religião, nem quero aqui fazer apologia (palavra derivada de Apolo, deus grego da beleza) à antiga religião grega. Quero apenas contextualizar meu presente artigo.

Dentre (palavra em extinção, já que a palavra ENTRE a substitui em quase 100% dos casos, mas deixarei esse importante detalhe semântico-morfológico para outra postagem) tantos mitos gregos, quero me ater a um em especial: o mito de Pandora.

Criada por Héfeso, deus do metal e do fogo, e por Atena, deusa da sabedoria e da justiça, segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher a existir. Todos os demais deuses lhe atribuíram um pouco de seus poderes para que ela pudesse ser forte.

O titã Epimeteu, guardião de uma caixa que abrigava todos os males do mundo, mesmo alertado por seu irmão, Prometeu, para que não aceitasse nada que viesse dos deuses, se enamorou da bela Pandora e a desposou.

Certo dia, Epimeteu foi fazer uma viagem e Pandora, muito curiosa, resolveu abrir a caixa guardada pelo marido. Assim que ela abriu a caixa, todos os males do mundo foram libertados, para a desgraça de todos os mortais. Essa história é bem conhecida, mas o que poucas pessoas sabem é que a famosa “esperança” que sobrou no fundo da caixa, também era considerada pelos deuses como um mal, pois ela ofuscava a visão humana a respeito do futuro.

A palavra esperança deriva do verbo esperar. De acordo com a mitologia, quem espera não age e não agindo não consegue modificar seu futuro. O fato de a esperança permanecer na caixa, enquanto todos os demais males saíram, justificam essa crença grega. A esperança não age, por isso é a última coisa que resta: a estagnação, a morte.

Quero com essa história chamar a sua atenção para uma outra caixa que guarda todos os males e benesses do mundo: a televisão. Estamos em época de eleição e essa caixa aberta, já vazia de males, pois todos já foram feitos, guarda a esperança. Homens, mulheres, jovens e crianças ficam diante da caixa de Pandora contemplando a esperança de um futuro. Esperam que alguém mude suas vidas por meio do voto.

O problema é que, assim como a esperança, na visão grega, a televisão também ofusca a visão de futuro. Marqueteiros criam na televisão um mundo lindo que não corresponde à realidade. As pessoas embebidas por essa esperança que não cansa de esperar o país do futuro acontecer ficam inertes e creem em imagens, jingles e discursos tecnicamente construídos.

Proponho o seguinte colírio para nossos olhos ofuscados: fujamos da caixa de Pandora e deixemos a esperança guardadinha lá. Desliguemos a televisão e abramos a janela da nossa casa. Depois, vamos dar um passeio pelas ruas, pelo bairro. Vamos expiar e respirar! Isso será o oxigênio e o colírio que precisamos para descortinar a nossa visão. Durante o passeio, ponderemos: estamos gostando do que vemos? Degustemos o cheiro, as visões e visagens, depuremos o ouvido para ouvirmos tudo o que nos cerca.

Se acharmos que nada precisa mudar diante de nossos olhos, se acharmos que está tudo bem, ótimo. Só nos resta esperar. Agora, se o que vimos da nossa janela, na nossa rua ou no nosso bairro nos desagradou, não esperemos. Mantenhamos a caixa de Pandora desligada e partamos para a ação. Uma ação capaz de mudar. De todos os males, a estagnação “esperançosa” é o pior.

Este artigo não utiliza o termo esperança no sentido religioso, mas como dito acima, na acepção grega do termo. Espero que estas reflexões nesses momentos em que a caixa de Pandora produz fantasias de um mundo perfeito, quase uma Disney, porém sem Sininho para nos avisar a hora de acordar, sirva para fomentar o debate em sala de aula a repeito da formação de opinião.

Um grande abraço!

Prof. Robson Lima