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BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: PERTO DO CÉU, LONGE DA SALA DE AULA.

Confesso que eu tinha uma boa expectativa em relação à elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNC). Na minha ingenuidade e credulidade eu achei que o Ministério da Educação iria visitar escolas públicas e privadas de todo o país para mapear o que e como se ensina em todas as Áreas do Conhecimento e em todos os segmentos da Educação Básica.

Depois achei que os coordenadores e elaboradores da BNC iriam conversar com professores, coordenadores e diretores de todo o país para saberem qual é o currículo de fato e por excelência que realmente é aplicado em sala de aula ano a ano, dia a dia.

Pensei que após esta longa pesquisa e essa demorada, democrática e factual conversa com educadores de todos os Estados brasileiros, juntamente com especialistas de cada Área do Conhecimento, elaborariam, a partir do que realmente é trabalhado em sala de aula, uma base curricular comum a todo o país.

Nesta base, por mim sonhada, haveria ano a ano, bimestre a bimestre, uma relação clara, translúcida e prática dos conteúdos (componentes curriculares) a serem efetivamente trabalhados com os alunos e, para cada conteúdo, um parâmetro metodológico de como este conteúdo deveria ser trabalhado e uma explicação clara do porquê ele é necessário naquele ano.

Uau! Finalmente afinaríamos a dissonante sinfonia entre a sala de aula, o MEC e a academia. Tendo claros os conteúdos ano a ano, bimestre a bimestre, o porquê de serem trabalhados em determinado ano e o como se deve trabalhar cada conteúdo, os professores, com sua experiência de sala de aula e seu conhecimento acadêmico, trilhariam com muita segurança o caminho que levaria o seu aluno à cidadania e à universidade.

Finalmente, com muita ansiedade, eu li o documento da Base Nacional Comum Curricular que já circula MEC a fora. Li uma, duas, três vezes. Como eu achei que eu não o havia compreendido, fiz como na universidade e elaborei um fichamento da Área de Linguagens. Adivinhem qual foi a minha surpresa? Para a minha tristeza eu havia entendido o documento na primeira leitura.

Colegas, trata-se de mais um documento nefelibata, muito distante da sala de aula. Até fizeram uma distribuição de conteúdos em grade, ano a ano, mas puro engano. O que a BNC considera componente curricular nesta grade está longe do que realmente se faz em sala de aula. Para vocês terem uma idéia, limaram a gramática do Fundamental I, o que eu achei maravilhoso, pois o principal conteúdo do EFI é alfabetização e letramento. O engraçado é que aproveitaram a lima e limaram toda a gramática do EFII e Ensino Médio. “Então tá, né.”

Em outras palavras, a BNC é mais um documento de gaveta. Tem ideias interessantes, antigos blablablás e muito PCN travestido em outras palavras, porém é mais do mesmo. Nem mesmo referências bibliográficas o documento apresenta. É claro, sem novidades, sem referências.

Em uma parte do documento, há uma admoestação de que além do “sonho de Ícaro” listado nas grades, a escola deve complementar a BNC com o que achar necessário. Mas, bah! Se a base curricular é para ser nacional, como assim a escola pode inserir o que quiser? Eu pergunto e eu mesmo respondo. Trocando em miúdos, continuem fazendo o que estão fazendo e, se der tempo para dar uma voada, siga a grade anexa.

A tão sonhada reforma curricular esbarra na falta de sala de aula aguda de que sofre o Ministério da Educação. Não falo que a culpa é da Dilma, frase feita para qualquer situação hoje em dia, na verdade o nosso currículo é do século XIX. Todos os presidentes da República têm culpa por deixarem o currículo nacional, base para toda a formação escolar, de lado para trabalharem metodologias. Metodologia sem currículo é o mesmo que um trem bala sem trilhos.

É pela falta de seguros e bons trilhos que a Educação brasileira segue com sua Maria Fumaça, alimentada pela dedicação e suor de professores que realmente sentem o chão da sala de aula e fazem dela o seu palco, diante de uma plateia ansiosa pelo futuro.

Bem, apreciem, debatam e formem sua opinião. Desculpem se meu texto é pessimista, mas eu juro que eu esperava muito, mas muito mais.

Ah, antes que eu me esqueça, imprimam as grades sugeridas pela BNC para a série com a qual trabalham e amanhã vão para a sala de aula, olhem para os olhos dos seus alunos e boa sorte!

Um abraço a todos!

Professor Robson Lima